Pagamentos de contas de água, luz e cestas básicas foram feitos com diárias do Legislativo e com aval do gestor jurídico
Em meio à polêmica pela redução dos salários dos vereadores em Jacarezinho, o presidente do Legislativo, Valdir Maldonado (PDT), admitiu na quarta-feira (5) utilizar ‘sobras’ de diárias requisitadas para custear despesas parlamentares para ajudar seu eleitorado. Contas de água, luz e até cestas básicas foram pagas com o dinheiro público requisitado pelo vereador, que negou se tratar de compra de votos, mas sim assistencialismo. Como se não bastasse, tudo é feito com o aval do gestor jurídico do município, Luiz Henrique Néia Giavina Bianchi, que justificou as declarações do parlamentar alegando que a prática é comum na Câmara de Vereadores.
Enquanto era entrevistado pela reportagem para opinar sobre a mobilização popular ocorrida na noite de segunda-feira (3) no Legislativo, Maldonado também foi questionado sobre diárias, e o vereador não pensou duas vezes para responder. “Estou pouco me ligando se retirei R$ 37 mil de diárias”. Em seguida, o parlamentar tentou se explicar, mas suas declarações só pioraram ainda mais a situação. “Esse dinheiro não está no meu bolso. Boa parte foi para eu ajudar as pessoas e o restante com gastos em cursos que realizei”, justificou.
Ao ser questionado se as ‘sobras’ das diárias não deveriam ser devolvidas aos cofres públicos, Maldonado respondeu negativamente, que o valor de R$ 450 da diária “pertence ao vereador para ser usado como bem entender”. Enquanto tentava explicar o uso do dinheiro público, o vereador foi interrompido pelo gestor jurídico da Câmara de Vereadores, Luiz Henrique Néia Giavina Bianchi, que tentou justificar a ajuda dos parlamentares à população. “Vamos supor que do valor de uma diária sobra ‘duzentão’, ai vem uma pessoa e fala pro vereador: ‘paga a minha conta de luz?’ Então o vereador, como tem a sobra da diária, acaba pagando a conta para ajudar aquela pessoa. Entendeu?”, exemplificou o advogado.
Perguntado se a prática não poderia ser interpretada como compra de votos, o vereador disse que não se trata de crime eleitoral, e que o que ele faz é assistencialismo. “Esses dias atrás chegou uma mulher aqui chorando dizendo que foi na prefeitura pedir cesta básica, mas não conseguiu os mantimentos porque já havia recebido o benefício neste mês, que portanto ela só poderia pegar outra cesta dentro de 60 dias. Poxa, a gente come todo dia! Acabei ajudando a moradora. É errado? Sei que é, mas...”, admitiu o presidente do Legislativo.
Em seguida o gestor jurídico da Câmara de Vereadores entrou novamente na conversa e foi direto. “A realidade é a seguinte: hoje o vereador que não faz isso está fora! O eleitor vem aqui e pede para pagar sua conta de água, por exemplo. Se o vereador fala não, outro vai e paga, e você que tratou do eleitor o ano inteiro perde ele. Bom, já falamos de mais”, finalizou Bianchi.
Na gravação o presidente Valdir Maldonado também cita um vereador que gastou R$ 150 mil para se eleger, sugerindo compra de votos, e companheiros que acabaram endividados depois da política. O parlamentar acusa ainda uma vereadora da atual legislatura de ter usado a ‘máquina pública’ para se eleger.
Antes de encerrar a entrevista, o parlamentar ainda ironizou. “Veja lá o que você vai escrever ai hein... Eu já estou na UTI! Você vai me ajudar a sair da UTI?”.
Texto:Luiz Guilherme Bannwart
Foto: Antônio de Picolli